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COLUNA BULLYING E CYBERBULLYING: Fenômenos antigos, roupagem moderna



Foto: Divulgação

O primeiro assunto que quero compartilhar com você é polêmico, muitas pessoas acreditam que reagir negativamente, rechaçar ou criticar uma situação de bullying e de cyberbullying é bobagem, é mimimi, afinal, alguns dizem: “eu sou de uma época que todo mundo passava por isso e está todo mundo vivo”. Eu já ouvi muito isso. Ora, embora eu seja da época em que o bullying era algo comum nas nossas vidas, não significa que era agradável, não é porque “superamos” e “estamos vivos” que não tivemos consequências, sequelas ou que não fomos abalados de alguma maneira, ou de várias. E mais, cada um reage de uma forma diferente à mesma situação.

Ademais, em diversas pesquisas que fiz, ficou claro que sempre há consequências e repercussões quando o tema é bullying e cyberbullying, embora nem sempre elas sejam conscientes e perceptíveis, ou compartilhadas, o que torna o cenário ainda mais grave. O bullying não se confunde com uma pilhéria pontual, uma brincadeira maldosa ou sem graça, trata-se de um comportamento frequente, sistemático, capaz de trazer transtornos e problemas que se perpetuam no tempo. As consequências do bullying e do cyberbullying são físicas, psíquicas, emocionais, sociais e podem se desenvolver a curto, médio e longo prazo, incluindo em alguns casos, o Transtorno de Estresse Pós-Traumático.

No mesmo sentido, uma pesquisa publicada no Journal of Psychiatry, realizada no King’s College, demonstrou que os prejuízos emocionais e físicos do bullying vividos na infância persistem até pelo menos a sexta década de vida. A prática do bullying e do cyberbullying se sustenta em três pilares: vítima, autor e espectadores. Todos os envolvidos experimentam consequências prejudiciais e sofrem de alguma maneira com a situação, inclusive o autor. Embora haja uma relação de poder entre o autor e a vítima, em alguns casos, o autor está repassando as agressões que ele próprio sofre.

Em se tratando do cyberbullying, percebe-se que a violência e a agressão são elevadas a outro patamar, afinal, não se pode mensurar a exposição e o constrangimento sofridos pela vítima. Se o conteúdo viralizar, como um meme por exemplo, a exposição será ainda maior, inviabilizando em alguns casos a contenção do dano, consequentemente, a retirada do conteúdo pode se tornar uma missão impossível. Ataques em postagens de mídias sociais, páginas e contas criadas para constranger e humilhar são mais comuns do que se imagina. A distância física entre o autor e vítima potencializa as agressões, zombarias e ataques, ademais, a possibilidade de agredir através de um perfil fake encoraja quem acredita que não será descoberto (ledo engano).

No Brasil, alguns ataques em escolas envolvendo o bullying e do cyberbullying com consequências trágicas foram amplamente divulgados na mídia, e não serão detalhados para preservar os envolvidos. Entre eles, o episódio de tiroteio no Rio de Janeiro em 2011 com 13 vítimas. Em 2013, em Minas Gerais, dois estudantes foram baleados. Em outubro de 2017, em Goiânia, dois estudantes morreram e quatro ficaram feridos. No Paraná, em setembro de 2018, muitos disparos foram efetuados resultando em alguns feridos, mas felizmente, nesse caso ninguém morreu. E esses não são os únicos casos. Além de ataques contra os envolvidos, há casos de suicídio e de autolesão relacionados ao tema.

É indispensável que os pais observem seus filhos, conversem, percebam mudança de comportamento, isolamento, tristeza, desinteresse em ir a alguns locais, falta de apetite, uso frequente de roupas com mangas compridas para esconder a autolesão, observem o corpo em locais que não ficam expostos no dia a dia, fiquem atentos aos sinais que pode impedir maiores problemas.

Importante salientar que, além dos pais que têm responsabilidade para com os seus filhos, as instituições de ensino também têm responsabilidade objetiva e respondem pelos danos causados aos educandos, conforme art. 14, CDC (há uma relação de consumo entre os pais e a escola).

Para evitar problemas legais, as escolas precisam demonstrar que possuem programas e ações que visam a educação e o combate aos fenômenos, e devem agir ativamente se souberem de casos envolvendo os educandos, chamar os pais e os professores para ajudar na solução do problema, além de fazer treinamentos e capacitação para os funcionários e colaboradores. Se o bullying parte de um professorou de um funcionário da escola, a responsabilidade também recai sobre a instituição, cabendo ação regressiva quando for o caso. As instituições de ensino devem seguir as orientações da legislação acerca do tema no sentido de desenvolver ações e estratégias visando a orientação e o combate, documentando tudo.

Em se tratando de Escolas Públicas, havendo negligência dos dirigentes, haverá responsabilidade objetiva do Estado pelos danos causados, de acordo com o art. 37, §6°, da Constituição Federal. No contexto de prevenção, cabe o mesmo entendimento de proatividade, de providenciar programas visando prevenção e combate, por outro lado, cabe ao Estado desenvolver e alinhar mecanismos capazes de acompanhar as ações que devem ser promovidas, obter o retorno do que está sendo desenvolvido, criar meios de cobrar o enfrentamento aos fenômenos e de registrar a trajetória da escola no combate.

É preciso entender que o bullying e o cyberbullying há muito tempo se tornaram problema de saúde pública, portanto não devem ser menosprezados ou minimizados. O combate apenas será efetivo quando houver o engajamento de vários atores da sociedade, família, escola, comunidade, estado. A prevenção e o combate devem ocorrer onde quer que haja convivência frequente de crianças e adolescentes.

Os pais e a escola são fundamentais nesse contexto, precisam estar atentos e fazer os jovens refletirem acerca do fenômeno e suas consequências, os engajar em campanhas, praticar com eles o exercício de se colocar na posição do outro. É preciso fortalecer a empatia através de exemplos e casos concretos. Os questionem para que reflitam: se a “piada” e a suposta “brincadeira” fosse com você, ou com um ente querido, ainda seria divertida e engraçada? Lembrem sempre que se em uma “brincadeira” tem alguém que não está se divertindo, não é brincadeira.

Até a próxima semana!
Por: Ana Paula Canto de Lima

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